O Testamento do Entrudo: as Deixas
Antes de o Mundo deixar
e a Terra me engolir
Aqui quero publicar
aquilo que vou repartir
Eu previno desde já
Que alguns não irei poupar
Se se ofenderem, já está
É o coração a falar
Para o nosso Agrupamento
Que nunca teve 1 euro para nos dar
Deixo o meu porta-moedas
Para os nossos projetos financiar
Pra Dra. Diretora
Que de manhã à tardinha está no Centro Escolar
Deixo a minha cama
Se cá quiser pernoitar
Para o Dr. Presidente, da nossa Associação
Que só pensa na poupança
Deixo-lhe o meu espartilho
Para andar com elegância
Para as crianças do Jardim
Que gostam muito de brincar
Deixo os meus livros de histórias
Para que possam sonhar
Para todos os alunos
Deste Centro Escolar
Deixo o cérebro da burra
Para ajudar a pensar
Para os alunos preguiçosos
Que não mexem a mão
Deixo-lhes as patas da burra
Para ajudar na lição
Para os avós do Lar
Que não faltam a uma festa
Deixo um sofá e a mantinha
Para dormirem uma sesta
Para todas as docentes
Que só pensam em se reformar
Deixo-lhes os meus chinelos
Pra, em casa, chinelar
Para as docentes de Vila Real
Que das portagens se andam a queixar
Deixo-lhes a carroça da burra
Pra um dinheirito poupar
Para a professora Carmito
Que de prémios faz coleção
Deixo-lhe o serviço de loiça
Pra comer uma refeição
Para a professora Zita
Que só Português e Matemática gosta de ensinar
Deixo-lhe a palete das cores
Para aprender a pintar
Para a professora Bibliotecária
que continua a falar de catalogação
Deixo a caixa do Xanax
em caso de aflição
Para a professora Aida
Que tanta paciência tem
Deixo o meu chá de camomila
Pra de noite dormir bem
Às educadoras catitas
Trabalhadoras e argutas
Deixo as minhas pernas bonitas
Pra aguentarem tantas lutas
Para as professoras de apoio
Que nunca sabem onde vão parar
Deixo o meu GPS
Para se poderem orientar
Para os professores da AEC
Sempre com belos carrões
Deixo-lhes o meu mealheiro
Pra pouparem uns tostões
Para as Auxiliares do Jardim
Que fazem a limpeza a eito
Deixo-lhes o meu baú
Para guardarem o que faz jeito
Para todos os pais
Que têm cama só p’ra dormir
Deixo-lhes um manual de instruções
Pra mais filhos mandarem vir
Para todas as Auxiliares
Que gostam muito do forró
Deixo-lhes os trapos velhos
Para limparem o pó
Para as meninas do prolongamento
Que ficam até o Centro fechar
Deixo a caixa da paciência
Para todos aturar
Para a equipa da cozinha
Que douradinhos e almondegas são o prato de eleição
Deixo o meu livro de receitas
Para terem mais imaginação
Para o nosso porteiro
Com carinha de anjo
Deixo os meus óculos
Pra ver quem estaciona à “Fangio”
Para a D. Ângela
Que um sorriso tem p’ra dar
Deixo o meu xaile
Pra melhor se agasalhar
Para todos os motoristas
Que circulam na estrada
Ficam as palas da burra
Pra não olharem pra mais nada
Peço às altas competências
Perdão pelo meu saber
Para aquelas deficiências
Que os meus versos possam ter
O meu testamento acabou
e como é Carnaval
Peço a todos a quem deixei
que não me levem a mal
O ENTRUDO
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