Conhecida como uma leitora criteriosa, a Sra. Professora Ana Maria Batista Oliveira aceitou, amavelmente, o nosso pedido para conhecermos melhor a sua experiência com os livros.
1) Desde quando é que se considera uma leitora?
Começo por referir que não sou uma grande leitora. Leio algumas coisas, mas não tanto quanto gostaria. De qualquer forma o gosto pela leitura acompanha-me desde a escola primária.
2) Como é que começou a interessar-se pela leitura?
Na altura, a partir dos 10, 11, 12 anos, íamos à Biblioteca Itinerante que quinzenalmente se frequentava, às 4ªs feiras à tarde, para requisitar (sem qualquer custo) os livros e, regressávamos depois para devolver e voltar a requisitar outros. No tempo de férias sempre se levavam mais exemplares… O entusiasmo era grande e, entre amigos e colegas, trocávamos ideias acerca dos preferidos, das temáticas e dos gostos pessoais.
3) Teve alguém ou algum livro que a tenha encorajado nesse sentido?
Vários me entusiasmavam à medida que ia crescendo. Quando mais jovem interessava-me por temáticas sobre aventuras, investigação, suspense, espionagem… Gostei muito de livros de mistério, tendo lido as obras quase todas de Agatha Christie , de Arthur Conn Doyle, com o seu famoso Sherlock Holmes, e como qualquer jovem da época , li as obras de Júlio Dinis, entre outros. Depois, no Ensino Secundário, comecei a gostar de obras de outros géneros e de outros autores, entre os quais, Eça de Queirós.
4) Porque e para que lê?
Leio porque de facto, acho que um livro é uma companhia, é um mestre, é o amigo que em silêncio nos ensina, nos desperta, nos inquieta, nos faz pensar, com o qual nos identificamos e que tanto nos oferece …
Também leio por distração, por passatempo… Não é por acaso que mudamos os gostos em diferentes momentos da nossa vida.
5) Tem alguém com quem partilhe as suas experiências de leitura ou sente-se algo isolada neste assunto?
Tenho a sorte de poder partilhar experiências com pessoas amigas e trocar as obras, pois tenho consciência de que nunca podemos ter todos os livros. Se emprestarmos uns aos outros, é mais fácil e é uma mais-valia. A experiência de se partilhar ideias é muito enriquecedora, as perspetivas de um autor, por vezes, têm várias interpretações e assim podemos conhecer também algumas e não apenas a nossa.
6) Houve algum livro que a tenha influenciado nalguma decisão da sua vida?
Não. Por norma não procuro livros que me ajudem a tomar decisões. O que me acontece é ler algo que, por vezes, se relaciona com situações que já vivenciei e que vão ao encontro do que penso sobre determinado assunto.
7) Alguma vez passou por situações semelhantes ou até mesmo iguais a algum livro que tenha lido?
Sim. Creio que todos nós já reconhecemos por escrito muitas situações que se enquadram perfeitamente com a nossa forma de estar, de pensar e de viver. Aliás quem procura temáticas relacionadas com o ser humano, tem mesmo de as encontrar. Não que tudo já tenha sido escrito sobre esse assunto, mas a perspetiva abordada pode ser sempre diferente. É que o Ser Humano, no seu todo, tem muitas vertentes a aprofundar.
8) Tem algum (ou alguns) livro (s) que a tenha (m) marcado profundamente?
Seria injusta se citasse um livro. Há vários e quando gosto muito, por vezes repito partes desse livro, abrindo-o numa página à sorte e voltando a deliciar-me com o texto.
9) Como escolhe os livros?
Se gosto muito de um autor em particular, tenho por hábito ler várias das suas obras para o conhecer melhor.
Gosto de ler algumas obras assinaladas com prémios, para estar por dentro das novas tendências (mesmo que venha a concluir não serem da minha especial preferência)
Mais do que temas específicos, procuro muito a forma como se escreve. As palavras que parecem ser sempre as mesmas (já todas foram inventadas….) aparecem sempre de forma diferente.
Interessam-me temas relacionados com as relações humanas, a psicologia, sobre a vida, as angústias, as incertezas, as paixões…
10) Em que altura e onde é que prefere ler?
Leio para descontrair, se puder, depois do almoço ou do jantar, em casa. Leio pela manhã, nas férias, porque gosto da manhã e os locais são variados (até serve a mesa de um café se o espaço estiver sossegado). Leio quando posso e em vários locais. No verão o livro acompanha-me na praia, na piscina, no comboio… embora nestes locais as leituras sejam mais leves; contos soltos, revistas, etc.
11) O que faria para adquirir um livro que não conseguisse encontrar?
Hoje em dia é fácil. Com o acesso às novas tecnologias, pesquisaria na internet e certamente que, ou na FNAC, Bertrand ou outra livraria o encontraria. Haveria ainda a possibilidade de se mandar vir do estrangeiro. Gosto da relação física com o papel, não conseguiria ler um livro no computador, por exemplo.
12) Tem algum conselho para tentar convencer mais gente a ler?
Sim. Há sempre alguém que podemos consultar porque simpatizamos, temos gostos em comum. Assim, devemos aproveitar os seus conselhos acerca do que partilhamos e das sugestões que apresenta. Depois devemos ler, insistir…procurar. Mesmo que não se goste do que nos indicaram, não devemos parar, pois de certeza que de insistirmos vamos encontrar uma identificação com um ou vários géneros.
Devem procurar, no início, os temas que lhes agradam, sejam de coleções, de viagens, de automóveis, de caça, de investigação, de animais, de flores, de poesia, sei lá, pensem nos gostos pessoais e vão encontrar algo…
Já alguma vez se interrogaram como é que determinado autor conseguiu escrever aquela obra extensa e complexa? Que génio é capaz de relacionar daquela forma, de nos surpreender? Já pensaram no que perderíamos se não o tivéssemos conhecido?
13) Que livros recomendaria a outro leitor (estando ele disposto a experimentar livros de qualquer género)?
Se for jovem adolescente, deve ler muito, vários temas para procurar encontrar o seu gosto pessoal, mesmo que sejam romances, ficção,… aconselho sempre a pedirem ajuda para não ficarem com ideias distorcidas.
Considero obrigatório ler as obras dos clássicos portugueses.
Se o leitor estiver disposto a ler de qualquer género deixo aqui algumas sugestões:
-Virgílio Ferreira, Em Nome da Terra ;
– Eça de Queirós, A Relíquia
– Aquilino Ribeiro, A Casa Grande de Romarigães
– José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis
– Mário Vargas Llosa, Conversas na Catedral
-Catherine Clément , A viagem de Théo;
– Augusto Cury , O vendedor de Sonhos
– Rosa Lobato Faria, O Romance de Cordélia
– Lídia Jorge, O vento assobiando nas gruas
-No teu deserto, Miguel Sousa Tavares
– Mário Zambujal, Dama de Espadas
– José Luís Peixoto, Nenhum Olhar
-Gonçalo Cadilhe, Nos Passos de Magalhães
-Mo Yan, Peito Grande , Ancas largas
– Russel Stannard, O tempo e o Espaço do Tio Alberto
…
14) Quer acrescentar alguma coisa para a conhecermos melhor como leitora?
Espero não vos ter dececionado com as minhas respostas. Certamente recolheriam mais de outras pessoas que, de facto, são grandes leitores, não por lerem muita quantidade, mas por lerem Grandes Autores.
Gosto de um bom enredo, mas a forma como é descrito é sempre mais importante.
O que me fascina mais nas minhas leituras é o prazer de contemplar as frases, parar e ler de novo, tentar entender o seu significado. Como é possível que alguém ponha no papel as palavras certas, as personagens que vamos entendendo ou construindo, com quem dialogamos, gostamos e até conversamos? Como é que alguns autores têm tanta inspiração/inteligência? Por vezes olhamos para uma frase, um texto e pensamos «que maravilha!» Isto é mesmo assim, que bonito que ficou este texto, tão fácil, com palavras carregadas de sentido, de emoções, de sensações auditivas, de cheiro, de tacto, de movimento, que nos transportam para situações por nós vividas com grande expressividade. Eu não o conseguiria escrever, muito menos daquela forma. Isso distingue bem quem sabe, ou no meu entender distingue os melhores …. Pelo menos se o leitor o souber apreciar já seria muito bom.
Sendo eu da área das Ciências, a Literatura fascina-me.
Sebastião Perestrello, 12.º B