A propósito dos 70 anos da DUDH
Quando recebi o convite do Professor Vítor João Oliveira aceitei de imediato. E aceitei com redobrado prazer por se tratar da MINHA escola secundária. Há 23 anos que não cruzava aquele portão. Voltar a entrar na Escola Secundária da Sé foi uma emoção enorme; consegui conter as lágrimas, viajei no tempo e voltei a reviver os meus tempos (felizes) de aluna.
Desta vez, entrei na escola como elemento pertencente ao outro lado – como professora; entrei não para aprender, mas para ensinar aquilo que tenho vindo a aprender ao longo dos anos. O tema não era fácil – falar de segurança associada à religião islâmica.
Falar de Islão e Segurança, com linguagem adaptada a alunos do secundário, não é fácil. Mas a aula fluiu, os alunos estiveram bastante atentos e, na minha modesta opinião, correu muito bem.
Com esta aula, procurou desconstruir-se a ideia de que o Islão é apenas sinónimo de violência e que todos os muçulmanos são violentos. Neste particular, foi necessário relembrar que o mundo árabo-muçulmano tem uma característica peculiar – uma vez que as esferas política/secular e religiosa interagem continuamente e estão dependentes uma da outra, a religião aparece como um fundamento irrefutável em todos os discursos políticos.
A religião surge, então, como um importante veículo de condução de massas. Na verdade, muitas vezes, é por intermédio da fé que se conseguem movimentar as populações rumo a determinado objectivo. Consequentemente, nos países muçulmanos, o Estado não se pode separar da religião, visto que ela condiciona o poder. Deste modo, assistimos a uma verdadeira instrumentalização da religião por parte de alguns movimentos no sentido de conseguir alcançar os seus objectivos (políticos). Com base nos fundamentos da religião, esses movimentos procuram edificar um Estado que vele pelo respeito pela religião. E usam o terrorismo para edificar esse Estado.
Apesar de, actualmente e perante a ameaça terrorista premente, se falar em choque de civilizações, temos que ter em mente que esta se trata de uma guerra contra um inimigo comum a vários Estados modernos: o terrorismo - impessoal e imprevisível. Trata-se de uma guerra contra indivíduos fanáticos que instrumentalizam a religião no sentido de alcançarem os seus objectivos políticos. Indivíduos que usam a religião como um fundamento irrefutável em todos os seus discursos políticos e como um utensílio moldável aos seus interesses. O terrorismo vai muito para além do fundamentalismo religioso... O terrorismo alimenta-se do medo e da possibilidade de desacreditação dos governos legítimos dos Estados de direito, apresentados como incapazes de cumprir o primeiro dos seus fins – a Segurança. Perante isto, não podemos ter medo! O Ocidente não pode ter medo! Ter medo é vergarmo-nos aos interesses destes terroristas e aceitarmos que não temos capacidade de os combater; é deixarmos que nos privem da nossa dignidade, da nossa liberdade e dos nossos valores que tantas guerras (algumas das quais em nome da religião) nos custaram.
Quando falamos de terrorismo e olhamos para futuro, percebemos que ele é, de facto, incerto. Mas, como dizia Victor Hugo, o futuro tem muitos nomes. Para os incapazes é o inalcançável, para os medrosos é o desconhecido, para os valentes é a oportunidade. E esta pode ser a oportunidade de mudança para aqueles que ousem reagir e enfrentar o medo.
Agradeço, mais uma vez, ao Professor Vítor João Oliveira pelo convite e pela oportunidade de me deixar partilhar o que tenho aprendido com os “meus colegas de escola”.
Bem haja!
Professora Doutora Teresa de Almeida e Silva