Cada aluno trouxe de casa um objeto pessoal carregado de significado para si e contou a sua história.
A minha bala
Tinha cerca de quatro horas de vida quando algo me chegou à mão. Podia ter sido uma chucha, um símbolo do começo da vida, mas não. Foi uma bala.
Sim, uma bala, uma cilíndrica e dourada bala, um objecto mortífero que desde então me acompanha para todo o lado, e considero-o como um amuleto, pois foi-me dado pelo meu pai.
Desde que foi carregada na arma e preparada para atingir um alvo até chegar à minha mão, este objeto tem uma história.
Preparada para ser disparada, apenas precisou de encontrar um alvo para que saísse com toda a pressão do cano da arma, rasgando o ar, com um destino, o abdómen de um soldado caído então no campo de treino militar, o meu pai.
Jorrando sangue sobre a branca neve caída nessa fria manhã de inverno, o soldado foi transportado de imediato para o hospital, para que lhe retirassem o objeto que, acidentalmente, entrara no seu corpo.
A notícia de que o meu pai tinha sido baleado, provocou na minha mãe, que estava grávida, grande aflição, indo ela de imediato para o hospital, não para ver o meu pai, mas para eu nascer.
Esta bala antecipou assim em três semanas o meu nascimento, e no hospital, nasci do outro lado da sala em que estava o meu pai a ser operado.
Desde que me lembro de quem sou a bala que me fez nascer acompanha-me por todo o lado.
Sabe-se lá se não antecipará outras coisas…
Marcelo Guedes, 12.ºB
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Um caderno perfumado
Foi numa tarde de verão, no final das aulas, quando passeava com o meu namorado, que ele me deu uma rosa, colhida no jardim da escola. Guardei-a. Um dia mais tarde, pensei: «porque não pôr todas as flores que encontro num caderno?»
Assim fiz.
A partir daquele dia, todas as flores que encontro ou que me dão guardo-as neste canteiro, para um dia mais tarde poder folheá-lo de uma maneira diferente. Nem todos os cadernos têm perfume, nem todos têm lembranças. Este tem momentos, pensamentos, memórias, flores secas, como se fosse um diário florido.
Neste pequeno jardim portátil há uma coisa fascinante. As flores que nele vivem sobrevivem sem água, apenas com o amor e as viagens que lhes proporciono. Os destinos são novos jardins onde elas podem conhecer novas flores, novas culturas, novas cores e aromas. Nunca invejam o que vêem. Admiram-se.
Depois de secas, ganham outras cores, também estas bonitas como se ainda estivessem vivas. Não quero dizer com isto que elas agora estejam mortas.
Mortas não.
Vivas! Bem vivas, nas minhas recordações.
Helena Sequeira, 12ºB