Cartas com destinatários fantásticos

 

Eolândia, num dia qualquer de um mês ventoso, do ano das 2010 rajadas

 

Caro amigo Vento,  

Como tens soprado? Tem sido fácil abanar as árvores para que dispam os seus vestidos, agora no Outono? Tens levantado as saias das senhoras que passeiam pelas ruas?  Espero que sim, e que continues com o teu bom trabalho.

E a família, como vai? Como está a tua filha Ventania? E a tua esposa, a Brisa Suave de que tanto gosto, que acaricia a minha face sempre que passa por mim? Não fiques ciumento, não digo estas coisas para te deixar irritado, não quero que fiques de mau humor. Ainda há um furacão num dos quatro cantos da terra por minha causa… Não quero ficar com esse peso na minha consciência. Quando te zangas, destróis tudo à tua passagem, derrubas as mais belas árvores, retiras os chapéus às casas, é um grande problema. 

Vamos ao que interessa, o motivo que me levou a escrever-te esta carta. Estou realmente preocupada contigo. Quero pedir‑te que tomes os calmantes todos os dias. Tens visto as notícias? Sabes o que tens feito? Parece-te bem? A mim não… Sei que não fazes por mal, mas isto não pode continuar assim…

 Parece-me que tens dupla personalidade. Aconselho‑te a consultar um especialista. Tu, amigo Vento, que nos fazes tão bem e tão mal ao mesmo tempo. Quero agradecer-te por todas as coisas boas que fazes e repreender-te por todas as maldades. Obrigada por me refrescares no Verão, por me fazeres sentir livre sempre que bates docemente na minha cara, obrigada pelo oxigénio que me trazes. Agradeço-te  também pelo simples facto de existires. Se pudesses ser sempre assim… Mas não! Às vezes pergunto-me porque o fazes. Porque insistes em mostrar a tua força e o teu poder? Não acredito que seja apenas para te gabares. Tem de haver outra razão. E qual é?

Esta foi a nona pergunta que te fiz nesta carta. Exijo uma resposta veloz para todas elas.

Brisas e abraços 

A tua amiga Maria Eolófila, 10.º C

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árvores no nevoeiroNebelinolândia, numa madrugada do Brumário de 2010

Meu adorado Nevoeiro,

Escrevo-lhe para lhe dizer o quanto me fascina. Não sei porquê mas sinto-me feliz sempre que o vejo. Será porque me visitou na madrugada de verão em que nasci? Será porque é silencioso quando vem, fica ou vai? Será porque me traz sossego quando faz desaparecer tudo o resto à medida que o envolve?

Existem muitas pessoas que o odeiam, pelas mais variadas razões: por lhes tapar a visão enquanto conduzem, por trazer sempre consigo o seu grande amigo Frio ou por (na opinião delas) lhes tirar a beleza do que está à volta enquanto nos visita.

Adoraria um dia acompanhá-lo nas suas viagens pelo mundo, infelizmente, não me é possível, pelo menos por enquanto. Não disponho dos recursos, do tempo ou sequer sou feito de matéria capaz de flutuar no ar, apesar de não me importar de o ser.

Gostaria ainda de lhe perguntar o que faz quando vem cá a Portugal. Será que vem para ver o seu desenvolvimento ao longo dos séculos? Vem ver os nossos monumentos? Bem isso talvez não, visto que já está aqui na Terra desde que ela tem atmosfera portanto provavelmente assistiu à sua construção. Será que só vem pela simples vontade de passear? Seja como for, aproveito para lhe pedir o que me pode contar de Londres. É uma cidade à qual eu sempre quis ir mas ainda não tive possibilidade.

Bem, não quero maçá-lo mais, por isso termino com um pedido: que me visite no meu aniversário.

P.S: Dê também os meus cumprimentos ao seu amigo Frio e um agradecimento por me ter ajudado a aprender a pronunciar o “R” quando proferi pela primeira vez o seu nome.

Sebastião Omicléfilo, 10.º B

 

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Lamego, na primeira tarde fria de Novembro de 2010

Queridíssimo cachecol,

As tuas riscas coloridas iluminam os dias mais cinzentos. Passeio contigo naqueles dias em que as folhas amarelas caem das formosíssimas árvores espalhadas por toda a avenida.

Eras apreciado e cobiçado pelas pessoas quando estavas na montra das lojas enrolado à volta de um manequim. Foi assim que me seduziste. Não me arrependo de te ter comprado, pois de facto, és indispensável, porque me proteges daqueles vendavais que arrancam cabelos e do gelo das noites invernais. 

Sei que ainda vou passar um longo tempo contigo, mas quando chegarem aqueles dias mais suaves de Primavera, terei que te arrumar. Espero que não te aborreças naquela gaveta funda e escura, onde te irei depositar. Mas não te preocupes, porque esse tempo ainda vem longe.     

Um caloroso e colorido beijo.

 Da tua grande amiga,

Ana Ribeiro Friorento, 10.º B

 

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Lamego, numa tarde de Novembro de 2010

Minhas mui queridas chuteiras,

Escrevo‑vos esta carta com o propósito de vos transmitir os meus agrados, desagrados e alguns sentimentos.

Eu, que quando cheguei à loja e vos vi, me virei para a minha mãe e lhe disse:  «São as tais, mãe!», desde já, queria pedir-vos desculpa pelo facto de vos fazer acordar todos os domingos de manhã para  serem violentamente caceteadas, mas essa infelizmente é a vossa função, lamento. Sinto-vos um pouco desgastadas, é normal, mas ainda sois muito novas. Se bem que já quereis meter os papéis da reforma! Por favor, tudo bem que têm uma profissão cansativa e intensa. Compreendo que tendo três dias úteis de trabalho por cada semana, depois do descanso, levantar ao fim-de-semana, seja muito difícil, mas, caramba, ainda têm muito que pisar, derrapar, rematar, enfim, celebrar comigo os golos e, principalmente, cooorrrer!

No entanto, não são só aspectos negativos, não. Vós sois confortáveis, elegantes, de marca cara, e desde que vos adquiri, que sinto um maior rendimento, o que é excelente. Foi convosco calçadas nos meus pés que marquei o meu primeiro golo neste novo clube. Sei que não o viram, mas decerto que sentiram a energia com que rematei. Que goooooolo, minhas queridas! Se juntarmos todos os quilómetros que vocês já andaram, já teriam dado mais de 3 voltas à volta do mundo! Bom, do meu mundo. Infelizmente vou separar-me de vós, embora permaneçais parceiras da minha vida (<3) .

Com mais nada para vos dizer de momento, despeço-me com muitos mimos, adiantando-vos que em breve terão novo habitat, o meu cantinho de recordações especiais no sótão, pois se eu vos dou à minha mãe, de certeza que a vossa próxima morada será o lixo.

Um sentido adeus del goleador que marcou convosco.

 Paulo, 10.º B

Sobre Clube da Leitura e Escrita

O Clube de Leitura e Escrita da escola-sede do Agrupamento de escolas da Sé de Lamego intitulado «Escreve, que isso passa» reúne às sextas-feiras, das 12 h e 30 m às 13h e 15 m, na sala Infor 8 e às. Os convidados permanentes são os computadores, vários tipos de textos, muitas ideias e muitas palavras, muito boa disposição, algum chocolate para a inspiração, uma professoras e alguns alunos do 12.º B. Este blogue será um espaço de comunicação dos (e sobre os) produtos destes encontros em que os participantes acreditam profundamente que escrever é um excelente passatempo, já que diverte e ensina quem o pratica.
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