Não quisemos que as possibilidades do Contrato de Leitura se esgotassem na leitura e apresentação do livro à turma. Reunidos os títulos, pediu-se aos alunos que escolhessem 7 deles e que fizessem um rally de títulos, isto é, que escrevessem uma narrativa na qual tivessem que integrá-los de modo coerente, independentemente do conteúdo de cada livro.
Na mais alta solidão , ela estava pensativa a olhar pela janela. A lua de Joana estava bem lá no alto a brilhar para ela. «Eu tenho um sonho», eu quero viver», diz Joana despertando do seu pensamento. Então a adolescente deitava-se para dormir em busca de um novo dia. Começando a aparecer o sol na sua janela, Joana acordou. Levantou-se na ideia que tinha algo a realizar. Decidiu falar com a sua mãe que já se tinha levantado:
– Mãe! Gostava de te perguntar uma coisa.
– Diz Joana.
– Será que eu não poderia ir com a Alice na viagem?
– Oh, Joana. A tua irmã vai de lua de mel, não podes ir com ela.
– Mas eu gostava tanto. Por favor, perguntem à Alice.
– Não, isso está fora de questão. Mas tive uma ideia, porque não falas com o teu primo, o Magalhães, que toca piano e viaja imenso? Tu gostas tanto dele.
– Isso mesmo mãe, vou gostar muito.
Joana preparava-se para realizar o seu sonho. Telefonou para o seu primo e grande amigo Magalhães, a quem ela costumava chamar o pianista.
Ao fim do telefonema, Joana estava extremamente contente. O seu primo tinha aceitado fazer uma viagem com ela, também porque a sua mulher teve um imprevisto e não pôde ir, ficando Magalhães com um bilhete a mais. A viagem seria para África, onde o primo de Joana iria dar um concerto. No dia da viagem Joana perguntou ao seu grande amigo o que iriam fazer durante o passeio. Magalhães respondeu que iriam fazer muitas coisas mas que na primeira noite ela iria assistir ao concerto dele. Joana perguntou subitamente:
– Mas vai dar tempo para admirar por um bocadinho a minha lua?
– Decerto que nessa noite não, mas tem calma a lua pode esperar uma noite por ti.
– Pois tens razão, primo.
– Eu sei, lembra-te que estás a realizar o teu sonho, e que agora o mundo é a rua da tua infância.
Os dias da viagem iam chegando ao fim. Joana ia guardando lembranças da sua primeira viagem. Num passeio, África acima, Joana seguia nos passos de Magalhães, quando de repente no meio do nada, Joana descobriu uma pequena flor muito bonita, cor-de-laranja, como o seu cabelo. Nesse momento, o seu primo pianista chamou Joana por Flor do deserto. Joana ficou muito contente com esse nome, guardando aquela flor como a melhor recordação da sua primeira viagem de sonho.
Margarida, 10.ºB
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Estávamos no dia 21 de Julho de 1969, ia eu África acima, quando dei por mim fatigado, sedento e faminto. O mesmo acontecia com os meus companheiros. Caminhávamos na mais alta solidão, enquanto Amstrong pisava a nossa querida Lua, um acontecimento histórico segundo viemos a saber quando acabou a nossa expedição. E querida porquê? Porque a noite significava descanso para mim e meus companheiros, o que era um privilégio para nós. Depois de dias cansativos a caminhar e a levar com o sol ardente na cara, tínhamos no final do dia o nosso descanso merecido.
Nos passos de Magalhães, íamos, anos mais tarde, dia 7 de Fevereiro de 1975, curiosamente ou não, era o meu aniversário. Nesse ano desejava visitar a costa da América do Sul, como Fernão Magalhães fez ao serviço de Espanha. Devo dizer-vos: umas paisagens e umas praias belíssimas, cheias de vida, água límpida, onde apetecia mergulhar. Seriamente, paisagens para mais tarde recordar…
Tragédia, grande tragédia! Ia eu acompanhado de um amigo meu, o pianista, grande sábio quando se fala em música. Era dia 1 de Janeiro de 1980, acordávamos nós depois de uma passagem de ano, na Antárctida, uma passagem de ano muito, muito fria, pudera também não foi dos melhores locais para esta data. Mas continuando este relato: acordei bastante gelado, sentindo que estava talvez a entrar em hipotermia. Então disse bem alto ao meu colega: «eu quero viver!» que depois de ouvir este meu grito de desespero, saltou logo da cama. Cama como quem diz pois estávamos num iglu.
Depois destas viagens que, nem por sombra estão aqui todas contadas, pois imaginem o tempo que demoraria contar todos os episódios interessantes que vivi, venho contar-vos um momento de gargalhada total. Estava eu no Porto com a Alice, a minha mulher, e de repente ela lembrou-se de trazer umas flores lindíssimas que havia lá numa florista, e olhei eu para o nome da casa, quando dei com um dos maiores erros que já vi em toda a minha vida. Não é que a Senhora ou quem mandou fazer o nome se enganaram! Vejam só, a casa chamava-se “Frlorista”! Meu Deus, como é possível?! E nesse momento em que estava a contar isso às minhas duas filhas, disseram elas assim: «Não gozes Papá», e eu, de imediato, respondi: «não acreditam?! Perguntem à Alice» .
Depois destas viagens todas, repletas de episódios curiosos, eu tenho um sonho , um sonho que ainda está por realizar – ir ao Espaaaaaaço!
Paulo Alexandre, 10.º B
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Segui pela África acima.
Foi uma decisão repentina, apenas me apeteceu fazer uma viagem sem data prevista para o regresso. Viajar ao sabor do vento. Aterrei num aeroporto da Cidade do Cabo, na África do Sul. Olhei à volta. Havia letreiros: uns em inglês, outros em africânder, alguns em zulu…Estava completamente perdida, mas afinal era isso que eu queria, uma viagem com um destino imprevisto!
Lembro-me que nessa noite dormi numa pensãozita no centro da cidade. Estava cheia de estrangeiros. Tinha um refeitório comum. Enquanto desfrutava calmamente do meu primeiro pequeno-almoço africano senti alguém a sentar-se à minha frente. Levantei o olhar, e vi um homem.
– Hi! – disse ele.
Respondi da mesma maneira. Uma das vantagens desta viagem era mesmo essa, treinar uma língua estrangeira. Começou por perguntar se eu não me importava de o ter como companhia nesta refeição. Respondi que não. Era uma óptima ideia ter alguém com quem conversar. Era um pianista americano. Contou-me que ia viajando pelo mundo, tocando em vários sítios. Falou-me das suas viagens, dos músicos que conhecera, dos palcos onde estivera. Comecei a imaginar a aventura que seria a vida dele, viajando sempre ao som da sua maior paixão: a música. Ao fim de meia hora despediu-se dizendo que tinha de ir ensaiar.
No dia seguinte, lá estava a saborear aquele delicioso croissant com fiambre, quando ele se sentou outra vez à minha frente, mas desta vez não perguntou se eu queria a companhia. Deve ter adivinhado que queria. Retomámos a conversa do dia anterior. A certa altura disse-me para falar sobre mim.
– I have a dream… – comecei por dizer. Ir à Lua era o meu sonho. Expliquei‑lhe que sempre tive a necessidade de viajar, que quando estava no mesmo sítio durante muito tempo me sentia presa, e que ir à Lua era o máximo dos máximos para uma viajante como eu. Ele respondeu-me dizendo que A Lua podia esperar, que ainda havia muitas maravilhas para ver no nosso planeta. De facto ele tinha razão, ainda me falta tanto para ver. Foi então que ele me perguntou se podia acompanhar-me ao longo da minha viagem. Fiquei surpreendida com a proposta, pois pensei que mal ele acabasse o seu concerto, voltaria para os Estados Unidos. Comecei a pensar se não seria um pouco arriscado viajar com alguém que mal conhecia, mas por outro lado, se ele me acompanhasse nessa viagem sempre era uma maneira de o conhecer melhor!
Disse-lhe que teria imenso gosto!
Já estávamos em viagem há quase duas semanas, quando algo inesperado aconteceu. Tínhamos acabado de chegar àquela vila angolana (cujo nome não recordo) e estávamos à procura de um lugar para dormir quando tudo começou.
Entrámos numa pequena mercearia para comprar umas sanduíches. De repente, entraram dois homens armados, e sem perceber como, eles atiraram algo e a lojinha ficou cheia de fumo. A última coisa que ouvi foi o merceeiro a gritar:
– Eu quero viver!
Comecei a sentir-me tonta e caí redonda no chão. Abri suavemente os meus olhos e a primeira coisa que vi foi alguém a olhar para mim. À medida que a minha visão ia focando, ia vendo aqueles espantosos olhos rasgados maravilhosamente pintados de avelã. Que bela visão para um primeiro acordar!
Era ele, o pianista, meu companheiro de viagem americano.
Matilde Velloso, 10.ºB