Contos Baralhados

“A lebre e a tartaruga”, “O patinho feio”, “A Polegarzinha”, “O Pinóquio” ou “A galinha dos ovos de ouro” são histórias que conhecemos e contamos desde a infância. E foram o material de trabalho para verificarmos as caraterísticas, a estrutura e a linguagem do conto.

Depois, baralhámos tudo… Começámos por baralhar títulos e encontrámos uma lebre a vencer quatro touros, um patinho com botas, um Pinóquio generoso a distribuir ovos de ouro, várias Polegarzinhas, sempre simpáticas e desembaraçadas. Querem ver?

A Polegarzinha e o relógio

Conta uma velha história que uma família de polegarzinhos vivia dentro da parede de um palácio.

Certo dia, enquanto Polegarzinha e os irmãos combinavam ir brincar às escondidas no palácio, Polegarzinha escondeu-se num relógio grande, velho e inclinado que tinha uma grelha da porta aberta. A porta fechou-se e Polegarzinha afligiu-se. Irmão Pacheco reparou que a sua irmã se tinha trancado no grande relógio.

Polegarzinha ouviu uma voz muito triste.
– Olá!
– Quem és tu?
– O relógio.
– E porque falas com uma voz tão triste?
– É porque estou sempre aqui parado e ninguém me liga porque sou velho e feio.
– E porque acham eles isso?
– Eles foram comprando outros e mais outros e já não me dão importância.
– E tu que fazes?
– Eu sou um grande relógio.
– Grande?!
– Sim, eu sou capaz de te conceder desejos, levar-te a passear no tempo…
– E os teus donos sabem disso?
– Não… E tu, que fazes?
– Eu sou uma polegarzinha que ajuda os pais a trabalhar.
– Eu acho que já nos conhecemos…
– Quero fazer-te uma pergunta.
– Diz.
– Como te chamas?
– Eu sou o Trovador.
– Olha, sabes dizer-me como sair daqui?
– Sim, claro, estás a ver aquele buraco ali?
– Sim.
– Achas que cabes lá?
– Sim, sem problemas.
– Atrás desse buraco há um grande e intenso túnel que vai dar à quinta dos lavradores.
– Obrigado, senhor Trovador.
– De nada.

     Polegarzinha foi ter com a sua família e, como agradecimento ao relógio, prometeu ir sempre visitá-lo e até pensou em mudar-se para lá com a sua família.

Diogo Ferreira e Diogo Vieira

O Patinho das Botas

Era uma vez um pato que tinha umas patas muito feias. Vivia num pequeno lago, junto a uma grande montanha, com outros patos que nunca se aproximavam dele por causa das suas patas.
Certa vez, num belíssimo dia de sol, o pato decidiu subir a montanha para ir ter com o sapateiro que vivia no cume. Após muito suor e cansaço, chegou a casa do sapateiro. Ele mandou-o entrar, o patinho explicou-lhe a sua situação e pediu-lhe que lhe fizesse umas botas muito apertadas. O senhor sapateiro assim fez, criou umas botas muito apertadas, deu‑lhas  e ele calçou-as. O pato ficou muito feliz e desceu a montanha para mostrar as suas botas aos outros patos do lago, que ficaram cheios de inveja.
Muito contente, saltou para a água e deu às patinhas, e só então deu conta de que não conseguia nadar. As botas eram muito pesadas e foi por pouco que não se afogou.
Era um grande problema, qualquer pato conseguia nadar, menos ele, por isso ficou muito triste, sem saber o que fazer. Ficou o dia todo sozinho a chorar numa floresta assustadora, até que apareceu um velho alce que lhe perguntou porque é que estava a chorar. O pato explicou‑lhe o que acontecera e o alce tentou ajudá-lo, tentando tirar-lhe as botas, mas estavam presas e não saiam por mais força que o velho alce fizesse. Tentou de todas as maneiras até que se cansou e desistiu. Não havia forma de tirar aquelas botas e o patinho ficou ainda mais triste.
No dia seguinte foi ter com o pato gigante que vivia do outro lado da floresta. Pediu-lhe que usasse toda a sua força para lhe retirar as botas, mas o pato mais forte do mundo nada conseguia fazer. Então decidiu subir a montanha e ir novamente ao encontro do sapateiro.
Quando chegou ao cume da montanha, bateu à porta da casa e o sapateiro disse-lhe para entrar. O pato contou-lhe o seu problema e disse que queria tirar as botas, pois não conseguia nadar com elas nas patas. O senhor sapateiro respondeu que não podia fazer nada e que, muito provavelmente, ele iria ficar para sempre com aquelas botas agarradas às patas. O patinho ficou muito triste e decidiu dar uma volta pela sua vila.
Pelo caminho encontrou uma poça de lama onde estavam dois porcos a jogar à bola. Os porcos perguntaram-lhe se queria juntar-se a eles. Começaram os três a jogar e, no meio de tanta lama e com todos os pontapés na bola, acabou por perder uma bota, e depois a outra. O patinho ficou muito contente e foi a correr para o lago onde nadou durante todo o dia.
Daí em diante o pato viveu feliz para sempre e nunca mais ficou insatisfeito com as suas patas.

Luís Correia N.º 16
Luís Sequeira N.º 17

A Polegarzinha e os ovos de ouro

Há muito, muito tempo uma nobre e bela princesa vivia num baixo e feio castelo, o contrário de muitos que havia nos reinos vizinhos. Polegarzinha era muito pequenina; com as suas asas, todos os dias voava pelo seu reino, procurando sempre alguém que necessitasse de ajuda. Todos os dias a bela e pequenina princesa chegava ao castelo satisfeita por ter ajudado o seu povo. Alice, uma jovem princesa do reino vizinho, invejada por todas, por ter um belo cabelo loiro, sedoso e macio, queria ter o mais belo cabelo de todos os reinos, um cabelo de ouro. Mas para isso tinha de roubar os ovos de ouro da Polegarzinha.

Numa noite de luar, a princesa Alice resolveu sair do seu reino para ir roubar os ovos de ouro. Percorrendo um longo caminho, encontrou o Pinóquio encostado a um sobreiro a dormir a sua sesta. A princesa contou-lhe o plano, pensando que ele a podia ajudar, mas, em vez disso, Pinóquio foi a correr contar o plano malicioso à Polegarzinha. Nenhuma ideia lhe tinha ocorrido, no entanto, Pinóquio lembrou-se de que a Branca de Neve podia ser a única pessoa a ajudá-los. A noite já tinha caído e a Polegarzinha percorria, voando, a grande e assustadora floresta, até encontrar a casa da Branca de Neve e dos sete anões. Quando chegou, a pequena Polegarzinha explicou a situação. Branca de Neve concordou em dar‑lhe ajuda e guardou os ovos de ouro no baú do pirata das Caraíbas.

Finalmente, a princesa Alice chegou ao reino da Polegarzinha e encontrou novamente Pinóquio. Malandro como era, ele disse à princesa Alice que os ovos de ouro estavam na casa da Branca de Neve. Sabendo isso, Alice foi a correr para a floresta, mas pelo caminho parou para beber água no leito de um rio e desequilibrando-se caiu ao rio. Nunca mais ninguém ouviu falar dela.

A  Polegarzinha resolveu retribuir o favor que  Banca de Neve lhe tinha feito, dando-lhe os ovos de ouro. E assim Branca de Neve ficou com cabelo de ouro mais sedoso e macio de todos os reinos.

Ana Cláudia Gonçalves e Carolina Laranjo

O Pinóquio dos ovos de ouro

Há muito, muito tempo, quando as pessoas estavam todas tristes, numa ilha longínqua, apareceu um mendigo, de seu nome Pinóquio. Ele vivia feliz, ao contrário das outras pessoas, mas não tinha casa nem comida. Ou seja, não tinha nada, mas era feliz. As outras pessoas tinham tudo isso, mas eram tristes.
Uma vez o mendigo Pinóquio teve um convite para ir trabalhar para o homem mais rico e o pior daquela ilha. Tinha de ir fazer limpeza à casa dele e ele aceitou.

Quando começou a trabalhar ficou admirado com o palácio que o homem rico tinha; entrou para o palácio e o seu patrão mandou-o logo ir servir à mesa e nem o cumprimentou. Ele levou pão, leite e várias variedades de petiscos exóticos. No fim de comer tudo, Pinóquio pediu ao Senhor Doutor se podia comer as migalhas que ficaram em cima da mesa, mas ele, furioso, disse logo que não. Quando Pinóquio pegou nas migalhas para deitar ao lixo, elas transformaram-se em ovos de ouro. Ele ficou espantado.

  Entretanto foi para casa e pensou que as outras pessoas tinham tudo, mas não eram felizes. Pinóquio não tinha nada mas era feliz. Por isso decidiu repartir os ovos de ouro pela ilha toda menos pelo homem rico que ficou pobre por ter tanta maldade. Por todas estas razões o mendigo continua feliz.
Joel Santos e José Paulo Lopes

A Polegarzinha e a galinha Picaqui

No tempo das vacas gordas, havia um homem que tinha uma quinta com diversos animais.

Certa vez, apareceu uma menina muito pequenina chamada Polegarzinha. A Polegarzinha andava perdida e quando viu uma coisa colorida a aproximar-se dela, ficou super assustada. Essa coisa colorida era a galinha Picaqui. Ela também viu a Polegarzinha e perguntou-lhe:

– Quem és tu? O que andas a fazer aqui?
– Eu sou a Polegarzinha – disse ela com medo.
– Não tenhas medo, eu não te vou fazer mal. O que andas a fazer? Nunca te vi por aqui… – insistiu a galinha Picaqui.
– Estou perdida – disse a Polegarzinha.
– Não te preocupes, nós ajudamos-te –  disse a galinha Picaqui.
– Mas vocês quem são?- perguntou a Polegarzinha.
– Vem comigo e já vais ver.- respondeu a Picaqui.

A galinha Picaqui reuniu todos os animais da quinta.
Apresentou-lhes a Polegarzinha e disse o que se passava com ela.

– Não te preocupes, Picaqui, que nós levamos a Polegarzinha para casa.- disseram o gato e o cão ao mesmo tempo.

No dia seguinte, o cão e o gato andavam atarefados a arranjar um banquinho com encosto para a Polegarzinha. Quando terminaram mandaram-na chamar.
A Polegarzinha ficou tão surpreendida com o gesto tão amável do cão e do gato que quase chorou.
Nessa tarde, o cão e o gato levaram a Polegarzinha para casa.
Desde esse dia, a Polegarzinha vai visitar os animais da quinta todos os dias.

Débora & Diana

A lebre e os quatro touros

Há muito, muito tempo, havia 4 touros que se achavam os melhores do seu curral. Porém havia uma lebre que lhes queria provar que, na verdade, que não eram.

Certo dia, a lebre resolveu propor-lhes uma corrida. Todos eles aceitaram mas só um podia correr. A corrida ficou marcada para a manhã do dia seguinte. Durante a noite, como os touros sabiam que ninguém era mais veloz do que a lebre, decidiram preparar-lhe uma armadilha que consistia em fazer um buraco onde a lebre deveria cair.

Finalmente chegou o dia da grande corrida. A lebre estava confiante e os touros, com um riso maquiavélico, estavam muito contentes.  Mal começou a corrida, a lebre partiu em primeiro lugar, mas, como os touros esperavam, a meio caiu no buraco, o que proporcionou a vitória do touro. Com aquela vitória, todavia, esqueceram-se da lebre que estava desolada e chorosa por ter perdido a corrida. Mas, ao mesmo tempo, tinha vontade de se vingar daqueles touros. Só saiu do buraco a meio da noite, com a ajuda de 3 morceginhos que a puxaram para cima.
A lebre pensou em desafiar os touros para outra corrida. Mas não lhes diria o sítio certo onde a corrida se realizaria.                                                                                              Desta vez, todo o curral estaria a vê-la. Mal disse aos touros, eles repetiram o seu truque para ganhar. Mas em vão, pois quando encontraram a lebre e ela os conduziu à pista certa da corrida, viram a sua derrota, pois não tinham hipóteses. A lebre cortou a meta com muito avanço em relação aos touros, a quem o curral já não dava crédito.
A partir dai, todos os animais perceberam que os animais são iguais, apesar de terem formas e funções diferentes.

Gabriel Carvalho e Helena Esteves

Jogo (homenagem a Nuno Júdice)

O Jogo

Abro a caixa do inverno. Tiro os ventos,
as rajadas da chuva, os bancos de neve de onde
fugiram todos  os pássaros. Desenrolo à minha
frente os pântanos do inverno, Ando à volta
deles para desentorpecer as pernas; sacudo
o frio das mãos, limpo a chuva que se me colou
aos cabelos. Depois volto a lançar os dados
– e avanço até à primavera.

Nuno Júdice, O meu primeiro álbum de poesia, selecção de Alice Vieira, Dom Quixote, Lisboa, 2007

O poema de Nuno Júdice, “O Jogo”, foi o ponto de partida para um tempo de sensibilização às caraterísticas do texto poético. Depois, como sempre fazemos em oficina de escrita, pusemos as mãos na massa, procurámos as nossas próprias palavras e experimentámos escrever. Como o poeta.

Abro a caixa do inverno. Ponho de lado o frio,
a neve que habita no alto do pinheiro, e a geada que
faz tremer a relva pela manhã. Retiro o gorro, as botas
e o cachecol. Separo o vento do meu caminho; construo dias
longos e noites curtas. Depois  volto a lançar os dados
– e avanço até à primavera.

Carolina Bastos

Abro a caixa do inverno. Tiro a geada, as rajadas de vento e os
bonecos de neve de onde fugiram todas as folhas e flores. Desenrolo à
minha frente menos tempo de sol e mais de escuridão do inverno frio.
Ando, ando e ando até chegar à lareira; sacudo o frio das
mãos; limpo o gelo que se colou aos cabelos. Depois volto a lançar
os dados, vou‑me embora das árvores adormecidas
–  e avanço até à primavera.

Joel Santos

Abro a caixa do inverno. Espalho o frio,
a geada, a chuva, o granizo, o nevoeiro e o gelo. Ponho à
mão bonés, cachecóis, botas, galochas, gorros,
camisolas de gola alta e chapéus de chuva. Monto
o aquecimento, abro a lareira: construo noites longas
e dias curtos. Depois volto a lançar os dados
– e avanço até à primavera.

Diana Loureiro e Débora Rodrigues

Abro a caixa do inverno. Tiro o frio,
as tempestades e as avalanches
de onde toda a gente tenta fugir. Vejo ao meu redor
o espírito do inverno. Tento compreendê‑lo
e saio à rua onde está tudo gelado
e frio. Os meus olhos congelam mas
a minha alma sente o que por ali paira. Depois
volto a lançar os dados – e avanço até
à primavera.

Gabriel Carvalho e Helena Esteves

Abro a caixa do inverno. Tiro as árvores despidas, clico no botão do
frio, coloco os bonecos de neve e preparo a pista. Espalho as folhas
por toda a pista, ligo o nevoeiro e a chuva, agasalho‑me com
um cachecol e um gorro, pego no guarda‑chuva e calço as minhas
galochas. Vou para a rua rebolar na neve e volto para casa para
receber o calor da lareira.
Depois volto a lançar os dados – e avanço até à primavera.

Luís Carlos Correia e Luís Filipe Sequeira

Abro a caixa do inverno. Preparo o gorro
e o cachecol, as árvores recheadas de neve de onde
caíram todas as folhas. Estendo ao meu
lado um manto de neve. Ando à volta
deles para destorcer as mãos; agito
a chuva dos lagos; desanuvio o nevoeiro
que está no ar. Depois volto a lançar
os dados e avanço até à primavera.

Diogo Vieira e Diogo Ferreira

Abro a caixa do inverno. Tiro o frio,
as tempestades de  granizo, as árvores sem folhas.
tiro do fundo da caixa os
casacos de pele. Avanço 5 casas
para desentorpecer as pernas; sacudo
a neve que se colou a mim
durante a caminhada e bebo uma
caneca de chocolate quente.
Depois volto a lançar os dados
– e avanço até à primavera.

Rafael Fernandes e Miguel Ângelo Ferreira

Abro a caixa do inverno. Tiro os bonés
o cachecol, o gorro, o guarda‑chuva, as botas e a
camisola de gola alta. Preparo a lareira,
o frio vai‑se espalhando pelas ruas e a
neve vai caindo. Vou distribuindo o aquecimento
pelas pessoas, dando luvas e bonés. Depois volto a
lançar os dados – e avanço até à primavera.

José Paulo Lopes

Abro a caixa do inverno, retiro o cachecol,
as camisolas de gola alta, as casas quentinhas.
desenrolo à minha frente
o chão molhado. Começo a correr sobre ele
para escorregar e cair. Abano a cabeça para
sacudir a neve, fecho o guarda‑chuva e
entro em casa. Depois volto a lançar os dados
e avanço até à primavera.

Virgílio Teixeira e Vítor Diogo Santos

Abro a caixa da primavera. Tiro o calor,
as brisas quentes que passam por nós,
observo a vegetação que renasce. Arrumo
a roupa do inverno e visto uma t-shirt
e uns calções lavadinhos de fresco. Lanço
os dados e avanço 7 casas e a meio do caminho
oiço os pássaros e as abelhas, vejo as andorinhas
a chegar de África e observo as flores a
cobrir as árvores despidas enquanto saboreio
umas cerejas. Depois volto a lançar os dados
– e  avanço até ao verão.

Rafael Fernandes e Miguel Ângelo

 Abro a caixa da primavera. Monto as flores nos
canteiros e vou enchendo as árvores de folhas e
flores. Espalho a relva ao lado dos canteiros.
Ando à volta dela para sentir o cheiro. Ouço
Os pássaros a cantar e as raízes a levantar a terra.
Chamo as andorinhas para poisarem nos
beirais do telhado. Depois volto a lançar os dados
– e avanço até ao verão.

Diogo Vieira e Diogo Ferreira

Abro a caixa da primavera. Tiro o sol,
as flores, os campos floridos e os bancos
de jardim. Preparo os campos verdes da
primavera e coloco de parte o frio, a chuva,
os cachecóis,  as luvas e as botas. Enfrento
a agitação dos animais, do calor e ouço o canto
dos passarinhos. Construo jardins, campos,
canteiros e novas paisagens. Em seguida,
recolho todos os frutos, volto a lançar os
dados – e avanço até ao verão.

Ana Cláudia Gonçalves

Abro a caixa da primavera. Tiro o cantar dos passarinhos,
o calor e as grandes planícies de flores
onde existem muitos seres vivos que as admiram e as invejam. Vejo claramente
o adormecer do frio e das tempestades.
Admiram‑me as mil cores da natureza
vistas pelo olhar puro
de uma criança. Depois volto
a lançar os dados e avanço até ao verão.

Gabriel Carvalho e Helena Esteves

Abro a caixa do verão. Distribuo a alegria,
o calor, os jogos ao ar livre e as férias. Separo as
t-shirts, os calções, as saias, os chinelos e os bonés.
Monto a ventoinha: construo noites curtas e dias longos.
Depois volto a lançar os dados
– e avanço até ao outono.

Diana e Débora

 Abro a caixa do verão. Tiro o calor, a alegria, o sol de onde
fugiram todos os amigos do inverno, a neve e o gelo. Desenrolo à  minha
frente os rios frescos do verão. Ando à volta deles para me
preparar para mergulhar, respiro o bom ar das árvores e das flores;
tiro a areia dos pés a cintilar e mergulho. Depois volto a lançar os dados
– e avanço até ao outono.

Joel Santos

Abro a caixa do outono. Encontro as árvores despidas,
os sons do outono, procuro roupas um pouco
mais grossas. Retiro as andorinhas que
vão para países mais quentes. Vejo‑as esticar
as asas e partir. Visto o casaco para poder
saltar por cima das folhas que caíram das árvores. Depois
volto a lançar os dados – e avanço até ao inverno.

Virgílio Teixeira e Vítor Diogo Santos