Visita ao lar de terceira idade «Irmãs de S. Camilo»

Massagem às mãos

A tarde do dia 2 de Julho foi passada no lar de 3.ª idade «Irmãs de S. Camilo», em Lamego. Por iniciativa das professoras de Português e de Comunicação e Relações Interpessoais, foi preparada uma sessão constituída por dois momentos: um de leitura de textos, outro de massagens às mãos.

Foram lidos os poemas «Bela Infanta», da literatura tradicional, «Trem de Ferro» do poeta brasileiro, Manuel Bandeira, e quadras do poeta popular António Aleixo e ainda anedotas que fizeram as delícias dos idosos. Este momento cultural e o que se lhe seguiu de conforto (massagem às mãos) quebraram a monotonia da vida de um lar.

Os alunos sublinham que foi uma experiência muito gratificante e agradecem a oportunidade de conhecer mais um futuro local de trabalho, bem como o agrado com que idosos e profissionais os receberam, com destaque para a Senhora Madre Superiora.

Textos lidos:

Estava a bela infanta
No seu jardim assentada,
Com o pente de oiro fino
Seus cabelos penteava
Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma nobre armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem que a governava.
—“Dize-me, ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus pisava.”
—“Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada…
Dize-me tu, ó senhora
As senhas que ele levava.”
—“Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada;
Na ponta da sua lança
A cruz de Cristo levava.”
—“Pelos sinais que me deste
Lá o vi numa estacada
Morrer morte de valente:
Eu sua morte vingava.”
—“Ai triste de mim viúva,
Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho,
Sem nenhuma ser casada!…”
—“Que darias tu, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
—“Dera-lhe oiro e prata fina
Quanta riqueza há por í.”
—“Não quero oiro nem prata,
Não nos quero para mi’:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
—“De três moinhos que tenho,
Todos os três tos dera a ti;
Um mói o cravo e a canela,
Outro mói do gerzeli:
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei para si.”
—“Os teus moinhos não quero,
Não os quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem to trouxera aqui?”
—“As telhas do meu telhado,
Que são de oiro e marfim.”
—“As telhas do teu telhado
Não nas quero para mi’:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?”
—“De três filhas que eu tenho
Todas três te dera a ti:
Uma para te calçar,
Outra para te vestir
A mais formosa de todas
Para contigo dormir.”
—“As tuas filhas, infanta,
Não são damas para mi’:
Dá-me outra coisa, senhora,
Se queres que o traga aqui.”
—“Não tenho mais que te dar.
Nem tu mais que me pedir.”
—“Tudo não, senhora minha.
Que inda não te deste a ti.”
—“Cavaleiro que tal pede,
Que tão vilão é de si,
Por meus vilãos arrastado
O farei andar por aí
Ao rabo do meu cavalo
À volta do meu jardim.
Vassalos, os meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!”
—“Este anel de sete pedras
Que eu contigo reparti…
Que é dela a outra metade?
Pois a minha, vê-la aí!”
—“Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!…
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.”

(Da tradição oral)
 

Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)
Oô…
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô…
(café com pão é muito bom)
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô…
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô…
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô…
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente…
(trem de ferro, trem de ferro)

(Manuel Bandeira)
 

P’ra mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.

Eu já não sei o que faça
pr’a juntar algum dinheiro
se eu vendesse a desgraça
já eu era banqueiro.

O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
— quando consigas fazer
mais p’los outros que por ti!

Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.

Uma mosca sem valor
poisa, c’o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

Entre leigos ou letrados,
fala só de vez em quando,
que nós, às vezes, calados,
dizemos mais que falando.

Tem a música o poder
de tornar o homem feliz;
nem há quem saiba dizer
tanto quanto ela nos diz.

Porque será que nós temos
na frente, aos montes, aos molhos,
tantas coisas que não vemos
nem mesmo perto dos olhos?

Quantas sedas aí vão,
quantos colarinhos,
são pedacinhos de pão
roubados aos pobrezinhos!

Quando os Homens se convençam
Que à força nada se faz,
Serão f’lizes os que pensam
Num mundo de amor e paz.

Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
— Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!

Alheio ao significado,
Diz o povo, e com razão,
Quando ouve um grande aldrabão:
— Dava um bom advogado.

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência!
Para não fazeres ofensas
E teres dias felizes,
Não digas tudo o que pensas,

Mas pensa tudo o que dizes.
Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.

(António Aleixo)

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