Já te apercebeste de que há um elemento comum a diferentes símbolos de instituições e atividades profissionais ligadas à Saúde? Em caso negativo, clica nas imagens a seguir e tenta descobrir o que é:
Reparaste? Todos estes símbolos incluem, de forma mais ou menos clara, uma serpente.
Fazes alguma ideia do porquê?
Alguns poderão pensar que se refere à serpente de Adão e Eva — mas qual a sua relação com a Saúde?!
Bem… nenhuma! A serpente que figura nos símbolos relacionados com a saúde nada tem que ver com Adão e Eva, embora a inclusão da árvore nalguns deles possa denotar — e causar — alguma confusão de símbolos (o que é normal numa atividade secular, em especial quando a simbologia original se foi perdendo devido às mudanças culturais e religiosas).
Mas então, a que se deve a adoção da serpente como símbolo da Saúde?
A resposta está, não no mito da Criação da tradição judaico-cristã, mas na tradição mitológica grega, em cuja religião popular se venerava uma divindade de nome Asclépio.
Asclépio (Ἀσκληπιός) — mais conhecido entre nós pela versão latinizada do seu nome: Esculápio (Aesculapius) — era o deus da Medicina e da Saúde.
Em todo o rigor, era apenas um semideus (filho do verdadeiro deus da Medicina, Apolo, um dos mais importantes do Panteão grego, e de uma humana), mas o seu culto na Antiguidade greco-latina era tão grande, que acabou por ultrapassar o seu pai e “professor” em termos de devoção popular.
O nome de Asclépio surge pela primeira vez no Canto II da Ilíada de Homero, em referência a dois dos seus filhos (de que falaremos num artigo posterior), que são apresentados como guerreiros e médicos que cuidam dos protagonistas da Guerra de Tróia. Não é feita referência à divindade de Asclépio, mas, com o tempo, à semelhança de outros heróis épicos (Hércules, Aquiles, etc.), ele e os filhos seriam divinizados, surgindo a lenda de que Asclépio seria filho de Apolo.
Esculápio era habitualmente representado com um cajado ou bordão tosco ao qual se enrolava uma serpente. As origens do símbolo não são claras (por serem muito antigas), mas é possível que a serpente representasse o eterno renascer e a sabedoria.
Sendo o atributo do deus da Medicina e da Saúde, o Bordão de Esculápio passou, assim, a simbolizar este ramo de atividade.
Na Antiguidade, eram também comuns as imagens de Esculápio com uma das suas filhas, Hígia, esta representada a dar de beber de um cálice ou taça à serpente do seu pai. Com o tempo, a imagem de uma serpente enrolada num cálice tornou-se uma versão alternativa do símbolo da Medicina e da Farmácia, figurando, por exemplo, no antigo símbolo da Faculdade de Medicina do Porto (v. acima).
Voltaremos a falar de Esculápio e do resto da sua família num artigo posterior.