As primeiras referências a Macaão e Podalírio* surgem precisamente no mais antigo livro conhecido da Literatura Ocidental: a Ilíada, de Homero. Aí, os dois filhos de Asclépio (Esculápio) são apresentados (Canto II) como reis e líderes guerreiros que acompanham Aquiles, Ulisses e os demais heróis Aqueus (isto é, os Gregos) na guerra de Tróia e também, como seu pai, como «excelentes médicos». A sua mãe, segundo a tradição, seria Epíone, embora tal não seja referido na obra de Homero.
Macaão, em especial, tem um papel de alguma importância neste épico. Logo no Canto IV salvou a vida de Menelau (rei de Esparta e uma das personagens principais da história), que tinha sido gravemente ferido por uma seta troiana.
Mais tarde, no Canto XI, é a vez de Macaão ser ferido na batalha, o que lançou o receio entre os Gregos, que temiam perder um valioso trunfo,
Pois um médico é homem que vale por muitos outros,
quando se trata de retirar setas e aplicar fármacos apaziguadores.**
Segundo uma tradição posterior, Macaão seria cirurgião. A etimologia do seu nome parece apontar nesse sentido:
Macaão (gr. Μαχάων)
Μαχαιρίς [makhairis] s. f. Navalha de barba.
Quanto ao seu irmão, Podalírio, segundo alguns autores, seria especialista no diagnóstico clínico, incluindo psiquiátrico: teria sido ele o primeiro a detetar sinais de loucura no herói Ájax. A etimologia do seu nome (gr. Ποδαλείριος) é estranha — qualquer coisa como «Pé de Lírio»— , não parecendo ter qualquer relação com o seu papel de médico.
Com o tempo, e tal como outras personagens épicas, os dois irmãos médicos seriam divinizados, tendo o seu culto conhecido grande popularidade na Grécia Antiga.
** Tradução de Frederico Lourenço.